25 de agosto de 2011

Dia 2- Um tópico do qual tens uma opinião vincada

Não me recordo de ver muitos meninos de rua ao crescer.

Também não tinha o hábito (e permissão) de estar na rua com frequência, pelo que as minhas brincadeiras em muito resumiam-se em correr no meu quintal.

À partir da 5º classe, comecei a ir para a escola a pé, e o que via na rua com frequência eram “malucos” (sendo que apanhei uma grande corrida de um!).

Até a minha adolescência, sempre vivi no meu pequeno mundo, no qual só existiam os 3T e os Backstreetboys (exactamente!) pelo que era extremamente oblívia ao que se passava ao meu redor.

Eventualmente comecei a aperceber-me que o mundo não era tão colorido quanto eu achava. Já ia para a escola de carro, já ficava no trânsito, e já via meninos a virem bater na minha janela a pedir esmola.

Confesso que sentia uma certa repulsa, do género “ele está sujo!”, mas aos pouco a minha sensibilidade passou a vê-los de outra maneira. Sempre que podia e me lembrava, dava uma esmola.

Uns bons anos depois, li um artigo que me fez repensar as minhas atitudes para com todos os pedintes de rua.

O artigo dizia que na maioria das vezes, as pessoas só não davam esmolas por preguiça de chegar até a carteira e retirar aquele troco que a maioria tem sempre.

Senti-me culpada, pois o artigo não podia ser mais realista, pelo menos em relação à mim. Sempre fora aquela preguiça que me fizera abanar a cabeça e lançar um olhar desolado aquele menino que me vinha pedir esmola. Desde então passei a dar sempre que tivesse, fazendo o esforço “físico” e “mental” de pegar na minha bolsa e tirar um simples trocado.

Mais uns anitos, após voltar de vez para Angola, passei a viver triste com a miséria à minha volta e com a minha incapacidade de ajudar quem precisa. Passei para a fase de acusar incessantemente o Governo de negligência para com os mais necessitados, vivendo numa raiva e revolta contante. Acreditem, eu estava extremamente infeliz com a realidade do meu pais.

Até que um dia ouvi a música do #Valete – O mundo muda a cada gesto teu. A letra desta música causou uma espécie de epifania. O Valete diz na sua letra que “Não há revolução sem a tua contribuição.Partilha o afecto porque há sempre alguém que tu ajudas,Espalha a verdade porque há sempre alguém que tu educas, Denuncia o mal porque há sempre alguém que te escuta, Há sempre alguém que te segue quando acreditas na luta, Muda tu o mundo não fiques à espera de Deus,O mundo muda a cada gesto teu.”

Ele não podia estar mais certo. Decidi parar de falar e passar a fazer. Ajudar quem eu posso. Porque convenhamos, nãotenho a capacidade de ajudar todos angolanos que precisam, mas sempre que ajudar ao menos um, o mundo melhora.

E hoje, em conjunto com um grupo de amigos, criamos a “Sopa dos Kanukos”. Somos poucos, mas somos verdadeiros. Pretendemos, com muito amor e vontade, ajudar meninos de rua a ir para lares ou voltar para as suas casas. Pretendemos trabalhar com lares para ajudá-los e melhorar a vida destes meninos. Somos fruto da comunhão de atitudes e de sentimentos, capazes de resistir às forças exteriores.

Neste presente, o que falta para muitos de nós é tempo e disposição. Mas é mesmo isso que tentamos ter sempre, pois existem meninos que realmente precisam.

Acredito que o homem pode ser - e é - bom e generoso naturalmente, sem necessidade de intervenções culturais (como religião e crença).

Não é preciso muito, acreditem. Solidariedade não é dar um show uma vez ao ano e entregar donativos e não recordar-se sequer do nome de uma criança do lar que recebeu a doação. Não é esperar que liguem e peçam que doe uma camisa. Não é oferecer os restos do natal para quem “necessita”. Solidariedade não se compra nem se vende. È necessário apenas amar ao próximo e saber dar sem receber.

Sou solidária de coração. E como tudo, é uma opção de vida. Predispus-me a ser advogada do voluntariado, pois o voluntariado contribui para um mundo mais justo e mais solidário.

Não esqueçamos que é graças a esse tipo de trabalho que muitas ações da sociedade organizada têm suprido o fraco investimento ou a falta de investimento governamental na reinserção de meninos de rua.

Vamos ser a mudança que tanto queremos ver em Angola.






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