17 de fevereiro de 2011

Preconceito...

A primeira vez que entrei em contacto com a realidade do “homossexualismo” já era uma adolescente. Lembro me perfeitamente. Estava eu sentada em frente a uma loja em um shopping em Wilbraham, nos Estados Unidos , a espera de uma amiga, apreciando as pessoas que andavam de um lado para o outro. Entretanto, dois rapazes, que pareciam ter a minha idade, aproximavam-se do local aonde eu estava, de mão dadas. Achei estranho, pois em Luanda, aonde cresci, nunca tinha presenciado cena parecida, mas ao mesmo tempo achei normal, porque estando eu nos Estados Unidos, pensei “ tudo é possível”! Mas a medida que eles se iam aproximando do banco aonde eu estava, a linguagem corporal de ambos foi mudando... estavam cada vez mais atenciosos um com o outro, trocando sorrisos e carinhos... o que culminou com um beijo longo e apaixonado. Confesso que a cara que fiz deve ter denunciado tudo o que senti naquele momento, pois eles ficaram a olhar para mim olhando completamente sem reacção para eles.
Por muito tempo questionei o motivo da minha estranha reacção, e hoje sei muito bem o porquê. Afinal de contas, nasci e cresci em uma sociedade aonde a homossexualidade era practicamente inexistente, pois sempre fora algo de que ouvira falar, sem nunca ter constantado “en loco” o facto. Eventualmente, depois de ter vivido em um país (EUA) aonde a liberdade de expressão é notória, acabei por me ir habituando aquela realidade e fui me apercebendo que entre mim e um homossexual não existe muita diferença (na perspectiva biológica). As nossas diferenças eram iguais as diferenças que tinha com o fulano ou com o cicrano: tudo de foro comportamental.
Esta introdução parece estranha, mas este assunto surgiu porque ao almoçar com familiares, alguem comentou sobre o facto de Angola ter recusado as cartas credenciais de um diplomata isrealita por este ser homossexual, o que suscitou uma série de comentários desnecessários e perjurativos em relação a homossexualidade. Ao observar que pessoas cultas e estudadas, podiam tão facilmente se deixar levar por preconceitos, fez me reflectir e escrever este blog.
Convenhamos que nós, seres humanos, somos criaturas de hábitos e sistemáticas. Vivemos a base de estruturas que nos guiam e nos dizem o que está certo ou errado. Esta estrutura pode ser biológica, religiosa, política, económica e sabe-se lá o que mais. Crescemos a ver e ouvir que o oposto de “mãe” é “pai”, de “mulher” é “homem” e assim sucessivamente, mesmo porque até biologicamente, a natureza parece ter nos feito para estarmos assim agrupados. Concludentemente, o homossexualismo em muito quebra o que nós consideramos “normal”.
Mas sinceramente, porquê é que nós, quando nos deparamos com algo diferente do que estamos habituados, queremos alienar ou exterminar, ao invés de procurar entender?
Realmente achamos que chamar nomes perjurativos aos homossexuais, tratá-los como seres fracas, inferiores, não merecedores dos mesmos direitos, inúteis, é diferente de chamar nomes perjurativos a um negro ou judeu, tratá-los como seres tratá-los como seres fracas, inferiores, não merecedores dos mesmos direitos, inúteis?
Todos nós ficamos horrorizados e revoltados ao recordarmos-nos da crueldade e desumanidade da segregação racial, dos campos de concentração e dos mil genocídios e guerras religiosas, mas esquecemo-nos que todas estas foram fundamentadas com base em preconceitos sociais e ao meu ver, medo da “diferença”, pois no compto geral, o ser humano como povo rejeita o que não reconhece.
O meu grande medo para com o preconceito em relação ao homossexualismo, é não apercebermos-nos que o preconceito em massa causa danos irremediáveis para uma determinada minoria, e estes danos demoram muito tempo a serem reparados, sendo que ainda hoje sentimos os efeitos do racismo, anti-semitismo etc.
Ninguém é igual a ninguém, e de facto existem parâmetros que acredito ter que existir em uma sociedade. Mas desde quando é que homossexualidade gera assassínos, serial killers, pedófilos, corruptos, violadores? Desde quando é o homossexualismo torna alguém egoísta, mau, mentiroso, superficial, hipócrita, cínico, lambe-botas?
A orientação sexual de outrem deverá mesmo ser a nossa prioridade na hora de julgar?
A linha entre o preconceito e o falta de humanismo a tratar o próximo é extremamente ténue, portanto temos que ter muito cuidado, pois pelo menos eu, sinto pelos meus ancestrais que sofreram devido ao preconceito e recuso-me a fazer o mesmo, mesmo que inconscientemente. Espero que o resto do mundo comece a pensar do mesmo modo.