Recuei no tempo, quando a dois (2) anos atrás, sentada com uns amigos do meu irmão mais novo perguntei se algum deles já alguma vez tinha batido em alguma parceira. Primeiro sorrriram discretamente, dizendo que não. Eu lá insisti, sorrindo para pô-los avontade. Um deles ganhou coragem e confessou que sim. Que já tinha agredido uma namorada. Perguntei, ainda meio a sorrir, o porquê. Contou-me que a namorada na altura aparentemente estava a traí-lo, de acordo com os amigos. Ele ficou irritado com ela e acabou por agredi-la. Os amigos começaram logo a comentar, e acredito ter sido o suficiente para ele exprimir o que realmente sentia, pois levantou-se e começou a exemplificar o que supostamente fizera a rapariga. “Dei-lhe um bico na barriga e ainda por cima depois descobri que estava grávida!” Disse ele a rir. Ao ouvir aquilo, não contive a minha incredulidade. “ Tu riste do facto de teres dado um chute à barriga da tua ex-namorada aparentemente grávida???” Todos pararam de rir, pois o meu tom passou de amigável para horrorizado. O rapaz lá tentou explicar-se depois, menos empolgado e mais envergonhado. Dizia que amava a menina, ficara apenas perturbado com a possível traição e bla bla bla.... Contudo, eu já nem conseguia ouvi-lo mais.
Mas em que mundo vivo eu para achar esses relatos no mínimo anormais??? Será que estou assim tão fora da realidade? Será possível que a aceitação da violência esteja assim tão vincada na sociedade?
Todos justificam com a afirmação de que o casamento não é um mar de rosas, viver a dois é complicado, que as pessoas mudam. E os namoros juvenis todos doentios, como o do amigo do meu irmão? Aonde é que eles aprendem a agredir? Sinto que hoje em dia, as pessoas agridem por agredir. Tornou-se algo conforme a norma, regular.
Dor é um sinal de que algo está errado. Porquê associar agressão ao amor? Bater por ciúmes para mim é equivalente a sentimento de posse. Bater por traição para mim é ego ferido. Humilhar outrem não é equivalente a amá-lo.