23 de março de 2012

Violência domestica - Que fracasso da nossa sociedade!

"Pelo menos duas vezes ao ano, quando chegares a casa, dá duas galhetas bem dadas a tua mulher, pelas coisas que ela faz sem tu saberes!". Tive que repetir mentalmente esta frase para puder digerir o que tivera acabado de ouvir. Fiquei Estupefacta. Um comentario deste, saido da boca de um colega. Nao muito mais velho que eu. " ė normal! Tu ainda não ės casada, não sabes. Ès miuda!" . Resposta dada pela mais velha da sala, copeira, conhecida por lutar com tudo e todos. " o meu marido me batia com o pau. Eu tinha mais forca que ele, ele não aguentava. Mas possas, apanhar dói. Ficas com corpo cansado " reforçou ela. "Não faças esta cara, andas a ver estes colegas todos, enchovalham as esposas! Não te deixes enganar!". Acredito que o meu espanto era muito latente.
Recuei no tempo, quando a dois (2) anos atrás, sentada com uns amigos do meu irmão mais novo perguntei se algum deles já alguma vez tinha batido em alguma parceira. Primeiro sorrriram discretamente, dizendo que não. Eu lá insisti, sorrindo para pô-los avontade. Um deles ganhou coragem e confessou que sim. Que já tinha agredido uma namorada. Perguntei, ainda meio a sorrir, o porquê. Contou-me que a namorada na altura aparentemente estava a traí-lo, de acordo com os amigos. Ele ficou irritado com ela e acabou por agredi-la. Os amigos começaram logo a comentar, e acredito ter sido o suficiente para ele exprimir o que realmente sentia, pois levantou-se e começou a exemplificar o que supostamente fizera a rapariga. “Dei-lhe um bico na barriga e ainda por cima depois descobri que estava grávida!” Disse ele a rir. Ao ouvir aquilo, não contive a minha incredulidade. “ Tu riste do facto de teres dado um chute à barriga da tua ex-namorada aparentemente grávida???” Todos pararam de rir, pois o meu tom passou de amigável para horrorizado. O rapaz lá tentou explicar-se depois, menos empolgado e mais envergonhado. Dizia que amava a menina, ficara apenas perturbado com a possível traição e bla bla bla.... Contudo, eu já nem conseguia ouvi-lo mais.

Mas em que mundo vivo eu para achar esses relatos no mínimo anormais??? Será que estou assim tão fora da realidade? Será possível que a aceitação da violência esteja assim tão vincada na sociedade?

Uma das perguntas que mais faço aos homens com quem lido, é se já agrediram uma mulher. A maioria já. E quando digo maioria, é mesmo maioria absoluta. Do género 99%.

Quando o meu colega disse a “barbaridade” acima mencionada, todos acharam o comentario exagerado, uns diziam que sò batiam quando eram provocados/as, quando o/a parceiro/a exagerava, mas ninguèm descartou o uso da violência. Porquê será?

Todos justificam com a afirmação de que o casamento não é um mar de rosas, viver a dois é complicado, que as pessoas mudam. E os namoros juvenis todos doentios, como o do amigo do meu irmão? Aonde é que eles aprendem a agredir? Sinto que hoje em dia, as pessoas agridem por agredir. Tornou-se algo conforme a norma, regular.

Já é um grande passo estarmos a evidar esforços de foro legislativo para comaltar esta situação,contudo, é importante não focar-se apenas na mulher como vítima preferencial (apesar de que estatisticamente as mulheres estão em maior percentagem como vítimas), pois temos muitos casos de homens agredidos. Adicionalmente, é preciso também uma grande intervenção por parte das famílias e da sociedade em si, pois são estes que em muito moldam os cidadãos angolanos.

Dor é um sinal de que algo está errado. Porquê associar agressão ao amor? Bater por ciúmes para mim é equivalente a sentimento de posse. Bater por traição para mim é ego ferido. Humilhar outrem não é equivalente a amá-lo.

Não sou moralista, e sei que muita gente ao ler este post hipocritamente irá concordar comigo, dizer que também são contra a agressão física, porque é bonito dize-lo e é o politicamente correcto.Entretanto, lembrem-se que com ou sem justificação, NÃO SE AGRIDE ninguém. Nunca irei discutir sobre isso, e para sempre serei quadrada em relação a este tópico. Não concorde por concordar, concorde porque realmente acredita. E se realmente concorda comigo, não dê gargalhadas quando alguém lhe disser que bateu a/o parceira/o. Não tem nada de engraçado. Não coadune com estas atitudes. Os nossos hábitos e acções é que definem a cultura do nosso povo, portanto não façamos da violência uma característica nossa.




16 de março de 2012

Kony 2012

...E é assim que me sinto em relação a nova tendência nas redes sociais "Kony 2012".

 Quando vi o vídeo, senti exactamente o que sentia quando tinha adultos a falarem comigo como se eu fosse uma pessoa mentalmente atrasada. A cada dia que passa,concordo mais que temos que aumentar a nossa capacidade de raciocínio e crítica, pois sinto que a mídia  já não se esforça mais para impingir-nos o que eles querem. Acho um pouco assustador que mais de um milhão de pessoas se uniram para seguir cegamente uma dúbia campanha sem pensar ou questionar o propósito. 

"...ver o filme Kony 2012 é quase obrigatório pois se trata de um trabalho de propaganda simplesmente brilhante que ilustra de maneira assustadora o futuro dos média, demonstrando (aos espectadores com capacidade de análise crítica) como são utilizados para manipular as boas intenções do público com o fim de legitimar as intenções das elites militares e políticas."


#MakeKonyFamous. (Por favor leiam e passemos a questionar mais.)